segunda-feira, 20 de abril de 2009

Sociedade: Pais, Filhos e Drogas.

As drogas são um mal que nos envolve a cada dia. Porém, nem sempre podemos dizer que o envolvimento dos jovens com as drogas se deve as más companhias ou o descuido dos pais. Aqui teremos uma noção mais ampla do por que os jovens ingressam nesse mundo, que muitas vezes não tem volta.
Estudos apresentam algumas características comuns encontradas em famílias de indivíduos dependentes de álcool e outras drogas: dependência de drogas em múltiplas gerações; perda parental pelo divórcio, morte, abandono, encarceramento; superproteção ou excesso de controle geralmente da mãe (simbiose), pai distante, ausente ou para engajado, frio; filho desafiador, engajado com companheiros, mas que permanece até a idade adulta dependente dos pais. É importante salientar que essas características são comuns, o que significa que não são absolutas ou a regra determinante.
Os pais, ao descobrirem que um filho ou filha adolescente consome determinada droga ilícita, sentem-se profundamente culpados. Questionam a si mesmos: "Onde erramos?" Contudo, essa culpa ou esse questionamento não aparece quando se trata de uma droga lícita, como por exemplo, o álcool. O álcool, como todas as outras drogas legalizadas (tabaco, anorexígenos, tranqüilizantes, anabolizantes), possui o mesmo poder de atração das drogas ilícitas, mas não possui a mesma força de censura.
Muitos pais são inadvertidamente levados à falsa percepção, engendrada pela ideologia do consumo, de que para ser bons pais devem dar tudo materialmente aos filhos, às vezes à custa de muitos sacrifícios. Mesmo dando materialmente tudo aos filhos, as questões mais interiores do crescimento pessoal são deixadas num segundo plano. Há uma inversão de valores que somente é percebida quando aflora um problema como o de dependência de drogas, gravidez na adolescência ou envolvimento em condutas anti-sociais. Os pais nem sempre são culpados por darem de tudo materialmente aos filhos. Observa-se que pais de poucos recursos materiais também sentem culpa por não poder dar de tudo ou dar o melhor materialmente aos filhos. Apenas são ludibriados pela ideologia consumista e não conseguem compreender que são peças desse jogo ideológico.
Já observamos famílias constituídas por pais e quatro filhos na qual apenas um dos filhos tem problema devido ao uso de droga, onde os demais estão caminhando normalmente na vida. Mesmo assim, nesse caso, os pais se sentem culpados. Há de salientar que, embora frutos do mesmo casal, cada filho tem seu jeito próprio de ser.
Há famílias em que os três filhos do casal estão envolvidos com drogas, sem história de consumo de substâncias psicoativas por parte desses pais. Há pais que consomem abusivamente álcool e outras drogas, mas cujos filhos estão fora desse problema. Pelo contrário, são esses filhos que cobram mudanças dos pais e os socorrem nos momentos de crises de intoxicação aguda.
Há pais que consomem drogas na frente dos filhos. Há nessas famílias uma cultura das drogas ilícitas, geralmente maconha. Nesse caso, essa droga é considerada um produto "natural" e não uma droga química. Utiliza-se um discurso de roupagem científica, no sentido de afirmar que a maconha tem componentes medicinais e é utilizada para controle de sintomas de algumas doenças. Quando um filho inicia o uso de uma droga, não provoca alarde, nem a culpa desses pais, pois é uma conduta dentro dos parâmetros da cultura que permeia essas famílias.
Quando referimos à família, a idéia que vem a respeito é platônica, quer dizer, pensamos sempre numa família constituída por pais e seus filhos que convivem num mesmo espaço. Mas na prática não é bem assim. Há filhos que convivem com o pai e a madrasta; filhos que convivem com a mãe e o padrasto; há mães, por exemplo, que têm três filhos, mas cada filho é de um pai diferente com o qual a mãe conviveu por um tempo e agora está grávida do quarto companheiro. A prática clínica mostra que a dependência de drogas tem uma enorme variação nas famílias. A dependência de drogas pode ocorrer na filha ou no filho mais velho, no do meio, no mais novo; no filho de pais separados ou na filha ou no filho adotado.
É evidente que há pais, e não são poucos, preocupados com o desenvolvimento interior dos filhos. Há filhos que são bem criados em valores éticos, morais e religiosos e que até certa idade tinham um discurso contrário às drogas, mas que entre os 22 e 25 anos tornaram-se usuários de drogas. Há pais que são tomados de surpresa ao descobrirem que o filho ou filha está consumindo droga, embora, até a descoberta, nada de diferente foi observado no seu comportamento ou no seu relacionamento. Há pais que poucos ligam para os filhos, e estes, por incrível que pareçam, mantêm-se distantes das drogas.
De modo geral, os pais, mesmo aqueles que são consumidores de álcool ou outras drogas, não querem ter um filho ou uma filha dependente de drogas. O discurso, quando existe, é sempre no sentido de alertar sobre o problema.
Assim, há uma variação também no modo dos pais educarem os filhos. Pais que são mais rígidos quanto a determinados valores, normas, horários, etc. Pais mais flexíveis; pais permissivos; pais psicologicamente ausentes e mães neuroticamente presentes. Quase sempre a esposa é responsabilizada pelo cônjuge quando o filho ou filha apresenta problema com drogas. Essa cobrança é proporcionalmente maior quando o pai é psicologicamente ausente. Num mecanismo de atuação o pai absolve-se, nega sua omissão, justificando que delegou e confiou exclusivamente à mãe a missão de educar o filho.
Apesar das múltiplas possibilidades de escolhas que a sociedade ocidental apresenta para o indivíduo, a convivência com os familiares de origem, com os quais passamos boa parte da vida, está fora dessas possibilidades. Pais não escolhem seus filhos, e estes não escolhem seus pais. Os pais podem receber bem ou podem receber mal os filhos que geram. Os filhos também não têm escolha, pois terão que aprender a conviver com os pais. Se o ambiente social pode ser considerado um teste de múltiplas escolhas, o nascer numa família é um teste de apenas duas alternativas. A vida em família é um aprendizado contínuo que envolve a natureza do pai, a da mãe, a natureza de cada filho herdada dos pais e o ambiente ou estilo de criação dado pelos pais.

2 comentários:

  1. Desculpe-me chagar assim, é que gostei do seu blog.
    Parabéns! Belas postagens!

    Por enquanto é só isso!!!

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  2. Mais um prêmio para este blog.
    Ofereço ao presente blog o Prêmio Este Blog é um Jóia.
    Para pegar a logo da rede e postar nesse blog, no meu é fácil encontrar as regras e a logo. Parabéns e Felicidades,
    Prof. Kauê Martins.

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