sexta-feira, 5 de novembro de 2010

A nova Geografia Politica do Brasil

Com mais de 55 milhões de votos, Dilma Rousseff venceu o adversário José Serra (PSDB), garantiu o terceiro mandato presidencial consecutivo para o PT e tornou-se a primeira mulher a chegar à Presidência no Brasil. Terá maioria folgada na Câmara e no Senado e dos novos 27 governadores do país, 16 são seus aliados. Nos dois turnos a agora presidenta eleita teve no Nordeste sua melhor votação: 62% no primeiro (única região onde passou dos 50%) e 66% no segundo. Neste segundo turno ela venceu em três regiões (Sudeste, Nordeste e Norte) e perdeu em duas (Sul e Centro-Oeste).
Foi eleita principalmente pelo apoio do presidente Lula, que tem 83% de aprovação. Mas ao longo de toda a campanha mostrou-se uma candidata capaz de enfrentar o principal nome do PSDB, José Serra, que já disputara uma eleição presidencial (em 2002) e vinha de vitórias seguidas em São Paulo – primeiro para prefeito da capital e depois para governador. Uma sequência de crises no governo acabou levando Dilma à condição de candidata. O nome maiscotado no PT, no primeiro mandato de Lula, era o do ministro da Casa Civil, José Dirceu, que caiu no escândalo do Mensalão, em 2005. Dilma, que era ministra das Minas e Energia, o substituiu e começou aí sua escalada. À frente dela, na “fila” de presidenciáveis petistas, ainda havia outro nome: o de Antonio Palloci, ministro da Fazenda. Mas este também caiu, em março de 2006, após a crise da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa. A partir daí teve início a consolidação do nome de Dilma como a candidata à sucessão. Em março de 2008, durante ato no Rio de Janeiro, o presidente Lula a nominou como “a mãe do PAC” (Programa de Aceleração do Crescimento). Era o ponto de partida da caminhada que chegou ontem ao seu ponto final: a eleição para presidente. Agora, o principal desafio que terá pela frente nos primeiros momentos será o de provar que não é apenas uma “sombra” de Lula.
Em relação ao Nordeste o indicativo é que a região continue a ter em seu governo o mesmo tratamento diferenciado que teveno governo Lula. Muitas das obras que estão em andamento fazem parte do PAC, que ela comandou. Além disso, desde 2002 a região tem-se caracterizado como retaguarda social e política de Lula e do PT. Detentora de 27% do eleitorado nacional, a região tem um peso político que deve continuar sendo valorizado pela nova presidente.
Na composição do ministério ela deve enfrentar pressão de políticos da região para a nomeação de aliados. Os governadores dos três principais estados nordestinos, Eduardo Campos (PE), Jacques Wagner (BA) e Cid Gomes (CE), já externaram o desejo de ter nomes dos seus estados no novo ministério. Sob a análise da geografia política, Dilma – que nasceu em Minas Gerais e construiu sua carreira no Rio Grande do Sul – será também uma presidenta que não tem base em São Paulo, o maior estado da nação e onde o PSDB está no governo há 16 anos.
Ela chega à Presidência com a vantagem de ter estado no governo nos últimos oito anos. Tem um conhecimento da máquina federal que lhe poupará da dificuldadepela qual passam os governantes recém-chegados – a de precisar primeiro familiarizar-se com a estrutura do governo. Dilma já é governo, e continuará governo. A vantagem obtida no Senado (onde terá 59 dos 81 senadores) e na Câmara (372 dos 581 deputados) pode facilitar a realização de reformas, mas ainda há que esperar para ver como se comportará a base governista. De todo modo, eleita com 55 milhões de votos e contando com a ampla aliança que apoia o governo, Dilma Rousseff assumirá a Presidência com todas as condições para dar certo.