sábado, 17 de janeiro de 2009

Efeitos culturais da globalização




“Nós vivemos na era da globalização, tudo converge, os limites vão desaparecendo”. Quem não ouviu, no mínimo, uma destas expressões nos últimos anos? A globalização é um chavão de nosso tempo, uma discussão que está na moda, onde opiniões fatalistas conflitam com afirmações críticas, e o temor de uma homogeneização está no centro do debate. Suposições de uma sociedade mundial, de uma paz mundial ou, simplesmente, de uma economia mundial, surgem seguidamente, cujas conseqüências levariam a processos de unificação e adaptação, aos mesmos modelos de consumo e a uma massificação cultural. Mas há que se perguntar: trata-se apenas de conceitos em disputa ou há algo que aponte, de fato, nesta direção? Quais são, afinal, os efeitos culturais da globalização?
O processo de constituição de uma economia de caráter mundial não é nada novo. Já no período colonial houve tentativas de integrar espaços intercontinentais num único império, quando a idéia de “dominar o mundo” ficou cada vez mais próxima. Por outro lado, a integração das diferentes culturas e povos como “um mundo” já foi desejada há muito tempo e continua como meta para muitas gerações. Sob esta ótica, o conceito de globalização poderia ter um duplo sentido, se ele não fosse tão marcado pelo desenvolvimento neoliberal da política internacional.
Conforme o sociólogo alemão Ulrich Beck, com o termo globalização são identificados processos que têm por conseqüência a subjugação e a ligação transversal dos estados nacionais e sua soberania através de atores transnacionais, suas oportunidades de mercado, orientações, identidades e redes. Por isso, ouvimos falar de defensores da globalização e de críticos à globalização, num conflito pelo qual diferentes organizações se tornam cada vez mais conhecidas. Neste sentido, não se trata de um conflito stricto sensu sobre a globalização, mas sobre a prepotência e a mundialização do capital. Esse processo, da forma como ele atualmente vem acontecendo, não deveria sequer ser chamado de globalização, já que atinge o globo de forma diferenciada e exclui a sua maior parte – se observamos a circulação mundial de capital, podemos constatar que a maioria da população mundial (na Ásia, na África e na América Latina) permanece excluída.
Essa forma de globalização significa a predominância da economia de mercado e do livre mercado, uma situação em que o máximo possível é mercantilizado e privatizado, com o agravante do desmonte social. Concretamente, isso leva ao domínio mundial do sistema financeiro, à redução do espaço de ação para os governos – os países são obrigados a aderir ao neoliberalismo – ao aprofundamento da divisão internacional do trabalho e da concorrência e, não por último, à crise de endividamento dos estados nacionais. Condições para que essa globalização pudesse se desenvolver foram a interconexão mundial dos meios de comunicação e a equiparação da oferta de mercadorias, das moedas nacionais e das línguas, o que se deu de forma progressiva nas últimas décadas. A concentração do capital e o crescente abismo entre ricos e pobres (48 empresários possuem a mesma renda de 600 milhões de outras pessoas em conjunto) e o crescimento do desemprego (1,2 bilhões de pessoas no mundo) e da pobreza (800 milhões de pessoas passam fome) são os principais problemas sociais da globalização neoliberal e que vêm ganhando cada vez mais significado.
É evidente que essa situação tem efeitos sobre a cultura da humanidade, especialmente nos países pobres, onde os contrastes sociais são ainda mais perceptíveis. Em primeiro lugar, podemos falar de uma espécie de conformidade e adaptação. Em função da exigência de competitividade, cada um se vê como adversário dos outros e pretende lutar pela manutenção de seu lugar de trabalho. Os excluídos são taxados de incompetentes e os pobres tendem a ser responsabilizados pela sua própria pobreza. Paralelamente a isso, surge nos países industrializados uma nova forma de extremismo de direita, de forma que a xenofobia e a violência aparecem entrelaçada com a luta por espaços de trabalho. É claro que a violência surge também como reação dos excluídos, e a lógica do sistema, baseada na competição, desenvolve uma crescente “cultura da violência” na sociedade. Também não podemos esquecer que o próprio crime organizado oferece oportunidades de trabalho e segurança aos excluídos.
Embora tenham sido desenvolvidos e disponibilizados mais meios de comunicação, presenciamos um crescente isolamento dos indivíduos, de forma que as alternativas de socialização têm sido, paradoxalmente, reduzidas. A exclusão de muitos grupos na sociedade e a separação entre camadas sociais têm contribuído para que a tão propalada integração entre diferentes povos não se efetive; pelo contrário, isso têm levado a um processo de atomização da sociedade. O valor está no fragmento, de modo que o engajamento político da maioria ocorre de forma isolada como, por exemplo, o feminismo, o movimento ambientalista, movimentos contra a discriminação ética e sexual, etc. Tudo isso sem que se perceba um fio condutor que possa unificar as lutas isoladas num projeto coletivo de sociedade. Nessa perspectiva fala-se de um “fim das utopias”, que se combina com uma nova forma de relativismo: “a verdade em si não existe; a maioria a define”.

Friedrich Ratzel: Hoje


Reler a obra de Ratzel hoje se torna imprescindível, pois até recentemente sua figura na historia e enigmática, sua obra pouco explorada.
Tudo isso porque a obra Ratzeliana sofre com seus interpretes que não conseguiram distinguir o que eram deles e o que eram de Ratzel. Ao selecionar as idéias do mestre não foram capazes de evidenciar o interesse que informava a seleção da obra estudada, fazendo que se formava uma imagem equivocada de sua obra. Um exemplo disso e introdução da obra Ratzel nos Estados Unidos por Miss Ellen Semple (1863-1932).
Zoólogo de origem , o professor alemão utilizou-se da obra evolucionária para explicar a relação existente entre a superfície terrestre e a história da humanidade a passagem da teoria dos organismos para fenômenos da vida humana na elaboração de sua obra aconteceu quase que naturalmente.Dentro do espírito ratzeliano,comparar o Estado a um organismo não significava assimilar um ao outro.
Tratava-se apenas de indicar ser possível,tanto na geografia como na biologia avançar na formulação de grandes construções explicativas. Ratzel acreditava que,assim procedendo, cientificamente os geógrafos seriam capazes de elucidar a história.
Para Ratzel,há na relação homem na natureza,uma dimensão política essencial que se atualiza através de instituições que são o Estado e a propriedade.O autor mostrou,na realidade, a impossibilidade de se pensar a geografia sem pensar geograficamente a propriedade do Estado.
Mas a geografia política de Ratzel não encontrou eco na universidade alemã.Nos meios governamentais,por sua vez, o pensamento ratzeliano-devido a seu caráter conceitual e metodologicamente operativo-penetrou decisivamente,mas a título de ideologia.
As idéias políticas ratzelianos atraíram,dessa forma,a atenção de cientistas políticos,em especial a de Swede R.Kjellén, que, a partir delas,fundou uma nova disciplina, a geopolítica Geopolitik após 1918.Como homem de seu tempo,a produção ratzeliana deixa transparecer a integração de fatos da modernidade,do novo modo de produção dominante já estabelecido o Capitalismo.Reler Ratzel hoje adquire,assim,conotação política dentro da disciplina. Não para se resgatar uma memória que se perdeu, mas para indicar que existem outros arranjos, além do consagrado, para as pérolas da história. Não para revelar o verdadeiro Ratzel, mas para além de romper com a visão distorcida de seus conceitos, deixar que emerjam um sem-número de dúvidas que inquietavam o geógrafo, sua religiosidade.seu questionamento filosófico. Talvez abra –se espaço, dessa forma, para redimensionar a obra do mestre dentro da geografia